V.6.3 Analogias III- Descartes, Rosacruz e MATRIX
Chegamos a um tema verdadeiramente controverso no
contexto deste livro. Que semelhança pode haver entre Descartes, a filosofia
Rosacruz e os filmes da série Matrix, realizada pelos irmãos Wachowski? Elas são
tão numerosas que seria necessário outro volume somente para as enumerar e
desenvolver. Por isso, o nosso objectivo continua a não ser tarefa fácil, tanto mais que estamos conscientes do risco que
corremos, de que este capítulo possa desvirtuar esta obra, por não ter
“dignidade” para servir de termo de comparação com a filosofia cartesiana e com
a espiritualidade rosacruciana.
Como puderam eles realizar uma película tão
representativa de toda a simbologia gnóstica? São inúmeros os autores,
principalmente professores de Filosofia em conceituadas universidades, que se
dedicaram a analisar esses símbolos com base em elementos filosóficos que vão
da Metafísica à Ética, passando pela Filosofia das Religiões e Epistemologia.
Em particular, muitas destas considerações estão consignadas no livro ”Matrix - bem-vindos ao deserto do real”, uma
colectânea de William Irwin, professor no King’s College, na Pensilvânia, que
convidou vasto grupo de Professores de Filosofia nas mais qualificadas
universidades dos Estados Unidos e Europa, todos eles com relevantes Curricula,[1] para refletirem sobre o significado simbólico do primeiro filme
da trilogia.
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Certamente nunca saberemos se os autores tiveram a
intenção que lhes atribuímos, por isso, limitamo-nos a apresentar os elementos
e as perplexidades, deixando ao leitor a oportunidade de colocar questões e
reflectir nas respostas. Uma coisa é constatável: ao longo da história da
literatura, nomeadamente, no século XX, inúmeras obras relatam histórias
eivadas de simbolismo que não podem descrever melhor, a via rosacruciana. (ver
Referências Bibliográficas).
Para começar,
Matrix representa uma metafísica dualista,
uma visão sobre a natureza final do mundo segundo a qual este é composto
exactamente de dois tipos incompatíveis de fenómenos: o mundo das aparências (o
irreal da Matriz e que podemos comparar à nossa natureza dialéctica, ilusória e
corrompida) e o mundo real (dos humanos em guerra com as máquinas,
correspondente ao mundo da Vida Original), dois mundos aparentemente
irredutíveis e inconciliáveis, cada um com as suas próprias leis e que não
possuem qualquer possibilidade de comunicação. Esta visão opõe-se ao monismo, segundo o qual, existe um único
tipo de vivência, ou seja, aquilo que os nossos sentidos nos mostram é a única
realidade: nada é ilusão, tudo é palpável.
Ao falarmos destes dois
mundos é absolutamente imediata a associação com a “alegoria da caverna”, de Platão: um mundo em que os habitantes nem
se colocam a questão de poderem não estar a viver a realidade, de não se
aperceberem de que habitam na escuridão, de que eles próprios e tudo à sua
volta não passam de sombras projectadas pela escassa iluminação de uma fogueira
que arde por detrás deles (a Matrix), e de que do outro lado do muro está um
mundo pleno de luz onde, aí, sim, tudo é real...